Aluno de Arvoredo acha ninhada de ‘caranguejos’ em extinção em rio

Animais coletados para estudo pelo professor – Foto: Arquivo pessoal/ND

Um “caranguejo” num rio chamou a atenção de um estudante do município de Arvoredo, nesta semana. Entusiasmado, o aluno da escola Benta Cardoso levou o assunto ao professor de ciências, Naiton Tartaro, que descobriu uma família de crustáceos de água doce na linha Chapada, algo difícil de ser encontrado na região. “O meu aluno chegou na escola comentando que tinha um caranguejo na casa dele, mas não percebi que poderia ser um crustáceo de água doce. Então pedi para ele me mandar um vídeo, mas quando vi fiquei apavorado porque eu nunca tinha visto tanta abundancia como tinha lá”, disse o professor e também biólogo. No Brasil, a espécie somente é encontrada em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, um tanto restrito à América do Sul.

Impressionado com a ninhada de crustáceos — dito por biólogos como algo raro de ser encontrado na região — o professor viajou até a casa do aluno para ver de perto a família dos animais aquáticos. “Fiquei bem curioso, fui a casa dele e fiz coleta de alguns para fazer a identificação. Eu sabia qual era a família, mas não sabia qual era a espécie”, comentou.

O professor pesquisou mais sobre o assunto e descobriu que o crustáceo de água doce foi descrito há pouco tempo com o nome científico de Aegla Grisella. “É um animal novo. Ele foi descrito em 1984. Ele se alimenta de resto de animais, vegetação morta. É bem interessante porque nesse local eles estão em muita abundancia”, salientou.

Um estudo recente mostrou que essa espécie encontra-se na lista das ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul, segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Lembram bastante um caranguejo de água salgada, por conta da cabeça achatada, pernas dispostas lateralmente e grandes garras. A coloração é variada, mas geralmente são de cor marrom-escura avermelhada, mas alguns animais possuindo tons azulados.

De acordo com especialistas, esses animais habitam ambientes bastante estáveis, pois são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. O Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

“Onde eles estão quer dizer que há preservação. Os crustáceos são bioindicadores, onde tiver poluição esses organismos não vão estar. Eles tem, normalmente, vida longa, então qualquer alteração ambiental causa morte desses animais”, disse o professor Tartaro.

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos” e das grandes garras, não são animais agressivos. “É uma espécie da região, mas pouco vista, até porque vive em locais isolados, onde não tem tanta manifestação humana. Eles são fundamentais para o equilíbrio ecológico desses locais, pois fazem a limpeza dos riachos”, finalizou.

O Aegla grisella é uma espécie ameaçada, listada como “vulnerável” (VU) na relação das espécies em risco de extinção, recém revisada e publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014).

Aegla grisella é uma espécie ameaçada – Foto: Arquivo pessoal/ND

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