Com dívidas, Schumann pede recuperação judicial pela segunda vez

Em 2023, empresa chegou a anunciar o fechamento de 29 lojas (Foto: Divulgação)

Uma das maiores varejistas de Santa Catarina recorreu à recuperação judicial pela segunda vez em menos de uma década. A Schumann, rede de lojas de móveis e eletrodomésticos, teve o novo pedido deferido pela Justiça na última quarta-feira, dia 15, desta vez para renegociar dívidas de R$ 133 milhões, a maior parte com fornecedores. O processo tramita na Vara Regional de Falências e Recuperações Judiciais e Extrajudiciais da Comarca de Concórdia.

A nova recuperação judicial vem poucos meses após o primeiro processo, que teve início em 2015, ser encerrado pela Justiça. Em março, a juíza Aline Mendes de Godoy decretou o caso finalizado após considerar que o plano de recuperação da Schumann havia sido cumprido durante o período de fiscalização. A mesma magistrada aprovou, agora, o segundo pedido de proteção contra credores, que inclui suspensão de ações e execuções.

A recuperação judicial envolve também a Gasil, empresa do mesmo grupo que em 2019 comprou a Multisom, rede gaúcha de lojas de eletrônicos e instrumentos musicais. Na petição inicial, advogados de defesa da Schumann alegam que a aquisição representava uma grande oportunidade de consolidar a recolocação da companhia no mercado, “como parte de uma estratégia arrojada para fortalecer seu poder de compra e expandir significativamente seu portfólio de produtos”.

A Multisom, que já vinha enfrentando dificuldades financeiras, chegou a ter 80 lojas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, 800 funcionários e faturamento superior a R$ 400 milhões. Na época, o valor da aquisição não foi divulgado.

A Schumann chegou a ter mais de 80 lojas em 72 cidades da região Sul do país, mais de um milhão de clientes e faturamento na casa dos R$ 300 milhões, de acordo com informações expostas no processo. Hoje a atuação da empresa está concentrada principalmente na região Oeste catarinense e em algumas cidades do Rio Grande do Sul. Em seu site, a rede diz ter cerca de 50 unidades em operação.

Procurada para comentar sobre o novo pedido de recuperação judicial, a Schumann não deu retorno até o momento da publicação.

Impacto da pandemia

Se no primeiro pedido de recuperação judicial, em 2015, a Schumann culpava a crise econômica no Brasil na época, que fez as vendas caírem e a inadimplência subir, desta vez um dos principais vilões mencionados é a Covid-19.

A empresa alega que a pandemia trouxe “impactos jamais vistos nas atividades de comércio”, citando fechamento de lojas e queda no faturamento. Mesmo com uma pequena recuperação puxada pelas vendas online, e também pela maior demanda de produtos para o lar durante a fase de isolamento, o cenário financeiro piorou.

Uma das operações mais afetadas foi justamente a da Multisom, hoje reduzida a uma única loja, em Porto Alegre (RS) – eram 58 unidades em atividade na época da aquisição, segundo a Schumann informa no processo.

Na petição, a rede diz que, em dado momento, aproveitou quedas nas taxas de juros para captar recursos e investir na abertura de novas lojas e revitalização de outras já existentes. Mas o aumento das despesas provocado pela expansão espremeu os resultados e os custos financeiros dos empréstimos aumentaram.

“Os investimentos feitos em expansão se tornaram uma grande dor de cabeça, sobretudo em razão dos compromissos financeiros que, num primeiro momento, haviam sido contraídos sob condições bem mais vantajosas. Esse aumento substancial nos custos de financiamento intensificou ainda mais a pressão sobre a rentabilidade e a estabilidade financeira do grupo”, cita o documento.

Fechamento de lojas

Em junho do ano passado, a Schumann anunciou o fechamento de 29 lojas. Em comunicado disparado na época, o presidente da rede, André Leonardo Schumann, tratou a decisão como “indesejável”. Segundo o executivo, pesaram contra o cenário econômico do país, a perda do poder de compra dos consumidores, crédito mais caro e endividamento das famílias, fatores que teriam ampliado a inadimplência.

Semanas depois, a coluna revelou que alguns dos pontos de venda deixados em aberto pela Schumann estavam sendo monitorados por uma concorrente, a também catarinense Berlanda. Em Blumenau, por exemplo, houve a “troca” de bandeira em uma sala comercial na Rua XV de Novembro.

Uma nova tentativa de reestruturação da Schumann incluiu uma diminuição drástica de funcionários – de 1,2 mil para 600 –, redução do volume de compra de mercadorias e de salários de gestores e fechamento de um centro de distribuição no Rio Grande do Sul. Ainda assim, os níveis de endividamento subiram.

“Em meio a tantas dificuldades, os resultados negativos, principalmente dos últimos anos de 2022 e 2023, têm pressionado o caixa da companhia, deixando o grupo ora requerente sem condições de honrar pontualmente seus compromissos financeiros e operacionais”, escreve a defesa da empresa.

Agora, pela segunda vez, a Schumann terá de remar para buscar reestruturar as dívidas na tentativa de preservar o negócio.

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