Ciúmes, brigas, agressões e ‘feitiço’ marcaram as últimas horas de vida de Roseli

No varal da casa localizada no alto do morro do bairro Das Nações, em Concórdia, as roupas de Roseli Fátima Stoll, de 38 anos, ainda aguardam para serem recolhidas. Sete dias já se passaram desde que a auxiliar de cozinha saiu para trabalhar e nunca mais voltou.

Na noite de terça-feira, 7, o ex-namorado de Roseli confessou à polícia que a matou asfixiada com uma cinta e jogou o corpo amarrado a uma pedra no meio do lago de uma usina hidrelétrica, no interior de Alto Bela Vista, na mesma região. Ciúmes, brigas e abuso psicológico marcaram os últimos meses da vida de Roseli, que até hoje segue desaparecida.

Casa onde Roseli morava. Foto: Nadia Michaltchuk/ND

Uma mulher trabalhadora, séria e sem vícios. Assim a família e os amigos a descrevem. Segundo a irmã da vítima, Grasieli Stoll, Roseli era uma pessoa feliz e levava uma vida calma até conhecer o ex-namorado, em junho deste ano. “Eles se conheceram através da internet. Foi tudo muito rápido. Os dois estavam juntos há uma semana e ele já veio com uma aliança de noivado”, contou a irmã em uma entrevista ao ND+.

No início, de acordo com Grasieli, o ex-companheiro demonstrava ser uma pessoa calma. Em questão de meses, ele teria se transformado em um homem possessivo e agressivo. “Uma pessoa obcecada, doente de ciúmes, vigiava todos os passos dela, ia ao restaurante onde ela trabalhava brigar com ela e com a patroa dela. Queria quebrar tudo. Não era amor, era obsessão”, lamentou.

Roseli, mãe de três filhos, teria sido proibida até mesmo de manter contato com a família. “Ele tinha ciúmes de tudo, até da família. Ele havia proibido ela até de falar com os filhos. Ele pegava o telefone dela e bloqueava até as próprias irmãs. Ele era autoritário, queria mandar até no telefone dela”, relatou Grasieli.

Pedido de socorro

Há cerca de um mês, Roseli esteve na casa de Grasieli, que vive em Erechim, no Rio Grande do Sul. A irmã contou que a vítima teria relatado os abusos naquele dia. “Na noite anterior aquele dia, cerca de um mês atrás, ele havia arrombado a casa dela e entrado pela janela. Quando ela chegou do trabalho, ele estava com um facão escondido atrás da porta”, afirmou.

Naquela noite, o ex-namorado teria usado o facão para ameaçar a vítima a noite toda. “Ele dormiu a noite inteira com aquela faca ao lado dela, ameaçando ela de matar, picar o corpo dela e jogar no rio, mas ela pensou que ele não ia fazer isso pelo fato de ele ter uma filha e de ela ter os filhos dela também”, disse.

Roseli vinha sendo ameaçada pelo companheiro. Foto divulgação

No dia seguinte, Roseli registrou um boletim de ocorrência por perturbação, mas retirou dias depois. “Ela estava com um corte enorme atrás da cabeça. Só retirou a queixa porque estava sendo ameaçada por ele”, acrescentou a irmã.

A aposentada Heloísa Hengen, vizinha de Roseli, relatou que a vítima havia, inclusive, visitado sua casa para pedir as imagens da câmera de segurança antes de registrar o boletim de ocorrência. “Ela não deu muitos detalhes, mas disse que ele havia arrombado a sua casa e pediu as imagens. Eu a aconselhei, mas preferi não me meter muito na relação deles”, contou.

Heloísa disse ainda que, embora Roseli fosse muito simpática, de alguns meses para cá, ela havia parado de cumprimentar os vizinhos. “Ele não deixava ela nem cumprimentar os vizinhos, mas nunca vimos nenhuma agressão”, disse.

Desaparecimento de Roseli

Roseli foi vista pela última vez em um restaurante na área central, logo após sair do trabalho, por volta das 19h40 de quinta-feira, 2. Foto: Nadia Michaltchuk/ND

Roseli foi vista pela última vez no restaurante em que trabalhava, logo após o fim do expediente, por volta das 19h40 de quinta-feira, 2. No sábado, 4, a patroa da vítima contatou os familiares, que registraram um Boletim de Ocorrência na segunda-feira, 6.

“A chefe dela comunicou a família que fazia 48 horas que ele não ia trabalhar, aí meu irmão que é de Seara foi a Concórdia fazer um Boletim de Ocorrência e começaram as buscas a partir de sábado”, contou a irmã da vítima.

Grasieli tentou contatar o ex-namorado, mas não foi atendida. Um amigo do acusado teria conseguido falar com ele e repassado um recado à família. “Ele disse que estava fazendo uma viagem muito longa com a Roseli e que não sabia quando iria voltar e nem se ela iria voltar viva”, relatou a irmã.

Confissão do crime

A confissão do crime à polícia ocorreu após a prisão do suspeito de 34 anos, por volta das 22h de terça-feira, 7, em Antônio Prado (RS), a cerca de 270 km de Alto Bela Vista. O homem fugia em um Renault/Logan e tentou escapar de uma abordagem da Brigada Militar do Rio Grande do Sul na rodovia RS-122, mas mesmo assim acabou preso.

“Após quase 18 km de acompanhamento, conseguimos a abordagem do suspeito. Iniciamos os questionamentos, com base nas informações já repassadas, e notamos um nervosismo ao ser questionado sobre o paradeiro de sua ex-companheira”, explicou o 36º Batalhão de Polícia Militar em nota.

O homem tentou fugir a pé por uma região de mata fechada e de difícil acesso, contudo os policiais conseguiram captura-lo novamente. “Ele ofereceu resistência, mesmo imobilizado no chão, evitando entregar as mãos para o uso das algemas”, detalhou a polícia gaúcha.

O carro foi apreendido e passou por perícia com luminol, utilizado em perícias criminais de modo a identificar sangue no local do crime. O suspeito teve a prisão preventiva decretada e foi transferido para o Presídio Regional de Concórdia.

O suspeito foi preso no estado gaúcho e levado até a cidade catarinense onde teria ocorrido o crime. A investigação revelou que antes de ser preso, o homem passou por Florianópolis (SC) e Caxias do Sul (RS). Foto: Polícia Civil

Feitiço teria motivado o crime

De acordo com o delegado Alvaro Weinert Optiz, responsável pela investigação, o acusado disse à polícia que a motivação do crime seria um feitiço, realizada pela irmã da vítima. “Ele confessou o crime, disse que teria asfixiado ela com uma cinta na manhã de sexta-feira, 3. Disse que tinha desentendimentos com a família dela e que, em razão desses desentendimentos, o crime teria acontecido. Ele disse que a irmã da vítima teria feito uma ‘macumba’ contra ele e que a motivação seria essa”.

O delegado também disse que o acusado não demonstrou arrependimentos e que ele relatou sofrer de epilepsia e estava sem medicação no momento do crime. A informação em relação ao distúrbio também foi citada por Grasieli, irmã da vítima.

ND+

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