Amizade de infância e sonho de vida melhor uniam jovens mortos em Balneário Camboriú

A morte de quatro jovens em Balneário Camboriú no dia 1º de janeiro, data simbólica de recomeços, trouxe à tona a força de uma amizade de infância e o sonho coletivo de uma vida melhor. Os mineiros Gustavo, Thiago, Karla e Nícolas foram morar em Florianópolis há cerca de um mês para começar um negócio próprio. O objetivo era conseguir comprar a tão desejada casa própria.

Bruno Nogueira, tio de Gustavo, ajudou a criar o sobrinho na fase da adolescência. De origem humilde e nascido na cidade interiorana de Paracatu, o jovem de 24 anos enfrentou uma depressão no ano passado. A força para superar a doença veio dos amigos que morreram com ele. O tio o descreve como um rapaz amoroso, brincalhão e muito respeitoso.

Na última conversa, na véspera do Ano-Novo, Gustavo estava no apartamento onde receberia a noiva, que chegou em Florianópolis na manhã das mortes. O sentimento naquela videochamada era de esperança por um futuro e ele chegou a escrever ao tio que “tinha coisas boas vindo”. A ligação do grupo era tão forte que a irmã de Karla disse: “Vocês eram inseparáveis e até o fim permaneceram juntos”.

— Gustavo era muito feliz, um rapaz batalhador e que não desistia dos sonhos — desabafa o tio.

Recém-chegados a Santa Catarina, região escolhida a dedo para abrirem uma empresa de marketing digital, os quatro começariam oficialmente o negócio nesta terça-feira (2). A mãe de Thiago teria, inclusive, vindo ao Estado para ajudar no processo e também comemorar a conquista dos jovens. Era da família dele a BMW na qual perderam a vida.

Nícolas, o mais jovem dos amigos com apenas 16 anos, compartilhava do desejo de Gustavo por uma vida melhor. O primeiro computador dele foi comprado pela mãe com muito esforço. Sem dinheiro para um novo, ela adquiriu um usado, relembra Dalila Barbosa de Oliveira. Consternada pela partida do filho, ela conta que aos 12 anos o garoto a ajudava nas faxinas para sustentar a casa.

Após enfrentar a tristeza da fome, de ver a família sem água e sem luz onde morava, ele decidiu se juntar ao grupo, mudar de cidade e buscar o que tinha se tornado um propósito:

— Ele dizia: “Vou trabalhar para comprar uma casa para a senhora, não aguento mais ver a mãe passando necessidade”.

A expectativa é de que os quatro corpos cheguem a Minas Gerais nesta quarta-feira (3).

Carro em que os jovens estavam. (Foto: Felipe Sales, NSC TV)

As mortes

Os quatro jovens morreram na manhã desta segunda-feira (1º). O Samu encontrou as vítimas em parada cardiorrespiratória dentro de uma BMW no estacionamento da rodoviária de Balneário Camboriú, onde tinham ido buscar a namorada de um deles. Com ajuda de populares, eles foram colocados na calçada para receber socorro. Após 40 minutos de tentativas de reanimá-los, eles faleceram.

A moça que o grupo tinha ido buscar na rodoviária contou que os amigos chegaram à rodoviária por volta das 3h15min reclamando de enjoo e tontura. Como o trânsito congestionado para voltarem a Florianópolis, os jovens decidiram ficar dentro do carro, com o ar-condicionado ligado, até melhorarem. A moça teria decidido esperar do lado de fora do veículo e às 7h foi ver como eles estavam. Nesse momento teria visto o namorado sangrando pela boca e os demais com olhos avermelhados.

Ela pediu ajuda para ligar para o Samu, que disse ter chegado ao local em oito minutos. Todos foram declarados mortos ainda na rodoviária. Segundo o relato da jovem, o intervalo entre a última vez que falou com os amigos até o momento de perceber que eles não estavam respirando seria de aproximadamente 40 minutos, conforme a Polícia Civil. Imagens das câmeras de segurança da região foram solicitadas para perícia.

A polícia fez coleta de exames para esclarecer o que levou às paradas cardiorrespiratórias. Entretanto, uma análise prévia da BMW indicou que houve um vazamento entre o motor e o painel do carro, possivelmente causando intoxicação e asfixia por monóxido de carbono, contou o delegado Bruno Effori. Familiares teriam contado na delegacia que recentemente houve customização do escapamento do carro. Os corpos não tinham sinais de violência e a Polícia Militar disse não ter encontrado vestígios de álcool e drogas no carro.

Quando os amigos chegaram à rodoviária contaram à moça que estariam passando mal por causa do cachorro-quente que comeram na praia em Balneário Camboriú, onde assistiram à queima de fogos do Réveillon. Entretanto, outra parte da família, que estava em outro veículo, também teria comido e não passou mal. O delegado contou que o grupo apresentava olhos vermelhos, vômito e até marcas roxas no braço quando foi encontrado. (NSC Total)

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